quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Matéria do Jornal Ibiá - em 01.10.2008


Cufa alerta para o consumo de crack no município

Amanda Fetzner



Para Manoel Soares, a prevenção é a única forma de combater o crack atualmente

"O crack, para mim, não é uma droga, é uma arma química de destruição em massa sem controle". Assim o coordenador da região Sul da Central Única das Favelas (Cufa), Manoel Soares, definiu a substância que está preocupando a comunidade montenegrina. Na noite de ontem, no Espaço Vida Unimed, dezenas de pessoas tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre o universo que gira em torno desta droga que se está se propagando no município.

O painel iniciou com apresentação do funcionamento do Centro de Atendimento Psicosocial (CAPS), feito pela coordenadora do órgão, a psicóloga Jaqueline Porto. Em seguida, Manoel tomou a palavra com o intuito de alertar a sociedade sobre a importância de realizar trabalhos de prevenção, contra o ingresso de jovens no mundo das drogas. Para o coordenador, esta é a única forma de combater a propagação do crack.

Manoel afirma que três são os principais motivos que levam alguém a experimentar a droga: a ociosidade, a facilidade com que o tráfico ocorre e o fato de as pessoas ficarem de braços cruzados diante do problema. "A sociedade finge que não vê. A sujeira que tem debaixo do tapete é muito mais profunda."

O coordenador da Cufa já esteve me Montenegro em outras ocasiões. Em uma delas, atuando como repórter, retratou o assassinato de uma moça que foi empalada, há pouco mais de dois anos, provavelmente por causa de uma dívida de crack. Para ele, o crime já representava uma situação crítica referente à droga no município. "Imagina como não está hoje", indagou. "Há meninos abrindo mão de sua masculinidade para comprar crack."

Soda cáustica e solução de bateria
Mostrando fotos produzidas por ele e relatando histórias, Manoel explicou sobre a composição e a ação da substância no cérebro e no corpo dos usuários. O crack é considerado o lixo da cocaína. Em uma análise feita em laboratório, soda cáustica e solução de bateria automotiva foram detectadas na droga. O consumidor aspira a fumaça do crack que, em 12 segundos, já está no cérebro, ativando o centro de prazer e produzindo sensação de euforia.

A psicóloga Jaqueline relatou que, dos 551 pacientes do CAPS, 226 são usuários de crack. Para Manoel, este número deve representar menos de 5% dos consumidores desta droga no município. Ele afirmou que o crack mudou o perfil dos antigos traficantes, buscando principalmente aquelas pessoas que são rejeitadas pelo mercado de trabalho.

Uma pedra de crack, de 24 miligramas, custa R$ 5,00. Um viciado consome, em média, cinco pedras por dia. No total, são R$ 8.400,00 por ano. "Não dá para tratar nossos filhos apenas como crianças, pois os traficantes não os vêem como crianças, mas apenas como consumidor."

A Cufa em Montenegro e no Estado
Coordenada nacionalmente pelo rapper MV Bill, a Cufa iniciou suas atividades oficialmente dia 7 de setembro. Ontem foi uma espécie de inauguração, através do painel com a psicóloga Jaqueline Porto e o coordenador da entidade na região Sul, Manoel Soares.

De acordo com a coordenadora de projetos, Letícia Silva dos Santos, um grupo de seis pessoas está tomando a frente dos trabalhos, mas toda comunidade é convidada a se engajar. A idéia é realizar projetos dentro dos bairros e comunidades oferecendo lazer e formação às crianças e jovens como forma de prevenção ao uso de drogas. Para isso, a Cufa conta com apoio de voluntários, oficineiros e empresas parceiras.

A responsável pelo setor financeiro da entidade, em Montenegro, Amanda Gonçalves, relata que o grupo também vai agir no sentido de buscar recursos para projetos que já existem. Ela cita as iniciativas do MC Pedrão, que é oficineiro. "São idéias boas, mas que precisam ser colocadas no papel. Às vezes há recursos e as pessoas não sabem como buscar."

No estado, existem bases de trabalho da Cufa em Caxias do Sul, Pelotas, Rio Grande, Alvorada e Porto Alegre, sendo que estão se estruturando grupos em Montenegro e São Leopoldo. Porém, a área de mobilização é bem maior, através do circuito Papo reto, no qual Manoel Soares ministra painéis. Mais de 40 municípios e 25.000 jovens já foram atingidos pela iniciativa. "Não viemos trazer a solução, mas nos comprometemos em contribuir pata que haja uma mobilização social que repense soluções."

Um comentário:

Camila dos Santos disse...

Essa palestra aconteceu em 30/09/2008. Tiramos delas alguns dados criticos como, 29 adolescentes estarem aguardando tratamento para desintoxicação. Pergunto: Depois de 24 dias, qual a situação de nosso municipio? desses adolescentes que clamam por ajuda? Qual foi o retorno de nossas autoridades, dado a CUFA - MGO, diante dessa situação?
Se não foi dado, vale a pena ir atras, pra não parecer demagogia nosso interesse em fazer mudanças. E isso não falo só para os cufianos,que já estão com as mangas arregassadas, falo a todos que não querem ver como uma banalidade tal situação. Porque quando tal desastre e percebido por uma sociedade como algo comum, estamos diante do caos.